quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Botão

Ele disse: você é rainha.
E ela pensou - que coisa mais comum.
Ele disse: você é minha.
E ela pensou - será verdade?
Ele suspirou e gemeu.
Ela gozou.
Nus na cama, sons de lua, perfumes da paixão.
Assim acabo gostando dele, cisma ela.
— Sabe o que amo em você? As coxas roliças, os seios que tu me dás, ele lhe disse como resposta à pergunta não feita.
Dengosa, nem pensou em responder. Arrancou o botão da fronha, torto e meio quebrado e lhe disse:
— Tome.
Ele, todo desejo, olhou, revirou. Franziu o cenho.
— Um botão?
Venha, venha e ela apontou.
Ele entendeu. Coseu, pregou, murmurou... seu botão?
E ela, charmosa, se abriu.
Maria Odila

terça-feira, 5 de maio de 2009

coisinhas antigas

Saudade querido amigo, saudade.
Andei sumida.
Sumiste?
pois bem... eu também!

Maria Odila

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Constatações para nada

Era uma vez um sapato onde floriam rosas carmim, branqueadas pela lua. Não a lua da madrugada e sim a lua enamorada, a eclipsada pelo sol. Parnasiana, adoraria escrever assim. Como não sou, quero escrever em tons de erva doce e sair à cata.
E na procura descobrir que sou assistente. Assistente por acidente.
Acidentalmente apaixonada, e por letras.
Gosto das palavras. Procuro-as em sentidos que só a mim servem.
Herdei pequenas mãos de encontrar notas e pés que adoram massagem.
Não, minto!
A massagem nos pés não é herança, mas como adoro, não custa fazer com que entrem neste rol de pouco sentido.
Cheguei a pensar que meu mundo havia sido defenestrado. Engano meu.
Mundos não desabam, apenas mudam de perspectiva por isso agora me considero consultora. Consultora de vazios.
Dizem que o destino, o nosso destino, vem escrito nas estrelas.
Não acreditem.
Isso seria enorme responsabilidade para aquelas que, mortas, nos mostram só luzes ou caminhos cadentes.
O destino, fado nosso, determina o criativo, e reza que as coisas são acontecíveis nas letras e que o inferno, bem... Oras, o inferno... são também os outros.
Ventura ou não, escrevendo letras, certas ou trocadas, maquinais ou quase incoerentes, o pacto se fez na urdidura, nos choros, nos desgovernos, nos perdidos e no inconseqüente de amanhã. Como dizia Sauci — e eu agora nem lembro mais quem é Sauci... tudo serve de oportunidade para garantir a vitória.
Deve ser por isso que nunca estou entre os vencedores... e também razão de ter esquecido: quem é o maledeto do sauci-autor?
Maria Odila

domingo, 26 de abril de 2009

Diálogos Aleatórios

Diálogos aleatórios

Ester é Teté e Amália, Mamali. Mamali é adotada e sabe disso desde que chegou em casa, aos 12 dias mas Teté prefere que isso nunca seja dito porque é irmã, com unhas e dentes e Mamá nada mais é do que irmã na raça. E Mamali sabedora disso, como boa irmã que é, adora futricar.
— Té...
— Que é Má?
— Tava pensando... você sabia que não temos o mesmo sangue? E Teté, que mais responde de imediato do que pensa sai com essa:
— Puta-que-o-pariu Mamali. Como não? Você é minha irmã Eu amo você, você sabe. E para com essa besteira.
— Ah... que eu sou sua irmã, eu sei. Sou parecida com você. Bem parecida.
— Viu? Não estava falando? Larga de ser bexta!
—Tá.
— E me deixa estudar que tenho faculdade hoje.
— Mas Té... olha...
— Fala, caralho
— Sabe o que é...
— Fala logo.
— É que a gente não tem mesmo o mesmo sangue.
— Caralho!!! De novo com essa merda? Mamali para com isso ou vou falar pra mamãe.
— Mas ela sabe que a gente não tem o mesmo sangue.
— Ah, já sei... então vai magoar a mamãe também com essa historinha toda, é? Não basta vim torrar meu saco e quer fazer a mamãe chorar?
— Mas ela não chora Teté.
— MAMALI!!!!! Mas que bosta. Vai continuar, vai?
— Mas é verdade, Té. A gente não tem o mesmo sangue.
— Só porque você foi adotada não tem que me lembrar toda hora, né? Você sabe que eu não gosto disso. Que você é minha irmã e que não deixo e nem quero que você vá saber dessa vagabunda, você entendeu? VOCÊ É MINHA IRMÃ E SEMPRE VAI SER.
— Tá bom, mas não temos o mesmo sangue, não temos.
— MAMALI, bosta!!!!!
— É verdade. Sou O positivo e você A positivo.
Maria Odila

terça-feira, 31 de março de 2009

Assim como...

Como Ariadne, espero Teseu matar o minotauro e sair do labirinto.
Como Penélope, ufano as velas de Ulisses e bordo todas as noites o que o dia desfez.
Como mãe, espero que as filhas cresçam.
E como mulher, sento, crio, desconserto e choro.
Nenhum destino a mais, nenhum amor a menos.

domingo, 29 de março de 2009

Adeus

E me disse adeus, tremular ligeiro nos dedos.
Aqueles que a cada beijo apertavam os braços, tatuavam a pele, desciam as costas e se perdiam abaixo.
- Vou.
Olhei, hesitei.
Se chorasse, faria um desastre.
Pouco pensei, fiz de mim um instantâneo e vi seu sinal.
E como meu homem, seus olhos me chamaram.
Não fui.
Na meia volta de mim, suspirei e fitei. Para meu colo, para baixo de mim, para longe de nós. Dedos de aceno, prolongamento enfim, penderam do ar.
Era destino, era adeus.
Passeando a forma do aceno à boca, o sentir do cheiro e do roçar, roucos dedos da despedida final. Somente espanto, dum imperplexo ciao...
E sem a espera de novas voltas, olhou-nos, olhou a mim e disse:
— Me vou... Talvez.
E foi-se, ocasional...
Maria Odila

Meu nome de Maria

Meu primeiro nome foi um: — Ah! uma menina... quem sabe o próximo? Desconsolo deixado no berço, forçou-me entrar na vida. Tempo não leva em conta desejos paterno-maternais. Meu primeiro segundo nome foi o da avó. Forte, instigante, diferente diria. E pela herança, encrenqueiro. O nome? Determinação em ser determinada. O primeiro primeiro nome é mais que bíblico. Da avó Madalena, dadivosa, múltipla em amores fáceis, jamais arrependida, herdei esse predicado – o de ser maria, com esse guardado madalena. A carga do nome, dizia a avó, levo eu, mas carregue consigo ser sempre neta de madalena. O som primeiro não foi choro como é o geral das crianças. Um silêncio apenas. E sem vagidos e nomes importantes, e porque minha madrinha não rezou em meu batizado, criei-me na vida maria somente, maria que mente. Porque madalenas são, bolinhos, penas e falhas. Madalena é a avó e de lamentosa Maria Madalena, a avó jamais me deixaria ser. Por isso sou Maria, por isso dou nome às coisas. Na verdade... madalenas são... arrependidas marias.
Maria Odila

sábado, 7 de março de 2009

Simplesmente...

Não há uma meia idade, é cabotino pensar assim. Existe, é verdade, a idade do sentir, do mais e do menor. O tempo anda muito rápido depois.
Acredito que hoje seria uma mãe muito melhor, uma aluna mais brilhante e uma esposa... que nunca deveria ter casado. São crenças, não certezas.
Posso também dizer que toda mulher merece ter a sua separação, se for casada e que o prazo de validade é a melhor coisa inventada até hoje. Gosto da viuvez, todavia, este é um problema só meu. Não quero passá-la para ninguém, mas viver sozinha entre filhas, é muito bom e o casamento, esse é um mal necessário... para se dar valor ao posterior de tudo.
Nem amarga nem ácida, muito pelo contrário, hoje estou é com um medo louco de me apaixonar de novo então quero ver se contando todas essas histórias sou eu a primeira a acreditar nelas.
Maria Odila

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Carta a um amigo de longe

Querido Roberto.


Os anos, mais de trinta, são longos quando temos vinte na idade e tranqüilos quando passamos dos vinte de faculdade feita.
As mãos, que primeiro chegam, mostram dedos ainda miúdos que não mais tocam música e o punho direito acrescido de uma tatoo, que fiz depois dos 50.
Este mesmo punho operei, o outro quebrei de fato. Já queimei com óleo, azeite, vinagre quente – fruto de experiência errada – forno estourado e água derramada.
Aliás, nos dedos a aliança que entrou e saiu e voltou a entrar e depois, veio a vida má e tirou de vez.
Pois então querido amigo, estas as notícias das mãos.
O corpo, este teve filhos. E depois cansou.
Os olhos ainda usam óculos que de tão acostumados, usam as mesmas lentes. O cabelo já foi curto, nunca muito longo e nunca liso, os cachos, bem sabes gosto deles. E quanto às cores, acredita que cheguei a ficar ruiva? Hoje tento ter brancos mas eles não me querem. Continuo castanha-comum-de-todas.
Melhor avisar: tenho certa reputação a zelar, sou viúva e aí vem o aviso, quase honesta.
Não se usa mais dizer viúva alegre , usa? E afinal, rindo tanto e brincando tanto quanto eu... melhor ficar com o quase honesta...
O fato meu menino é que lembrei a época da faculdade e a saudade bateu.
Liguei.
E te liguei.
E te re-liguei.
Afinal foi teu pedido... me liga, quero muito falar contigo. E eu liguei. E foi uma merda porque voltou tudo. Você, o bonitão da turma, as gurias, caindo em pencas e eu, a respondona (era uma boa ser respondona – me protegia dos tarados de plantão da época). Mas enfim... trinta anos depois eu ligo e você ainda continua na mesma? Ainda adora as meninas, agora não tão meninas, correndo atrás de você?
Ô meu filho. Tenho algo a te dizer.
Os oitenta e os setenta acabaram, as moças não querem mais homens que nada sabem e indecisos e mais, o tempo também passou sobre você que casou, separou, teve filho, e tu ainda continua nessa?
O duro não é isso. O duro sou eu, com mais de 52, acreditar que as pessoas mudam.
Que os solitários gabirus de faculdade... crescem.
Ai como sou tonta, como sou tonta.
Ainda bem que sou a primeira a rir de mim...
Maria Odila