domingo, 15 de fevereiro de 2009

Carta a um amigo de longe

Querido Roberto.


Os anos, mais de trinta, são longos quando temos vinte na idade e tranqüilos quando passamos dos vinte de faculdade feita.
As mãos, que primeiro chegam, mostram dedos ainda miúdos que não mais tocam música e o punho direito acrescido de uma tatoo, que fiz depois dos 50.
Este mesmo punho operei, o outro quebrei de fato. Já queimei com óleo, azeite, vinagre quente – fruto de experiência errada – forno estourado e água derramada.
Aliás, nos dedos a aliança que entrou e saiu e voltou a entrar e depois, veio a vida má e tirou de vez.
Pois então querido amigo, estas as notícias das mãos.
O corpo, este teve filhos. E depois cansou.
Os olhos ainda usam óculos que de tão acostumados, usam as mesmas lentes. O cabelo já foi curto, nunca muito longo e nunca liso, os cachos, bem sabes gosto deles. E quanto às cores, acredita que cheguei a ficar ruiva? Hoje tento ter brancos mas eles não me querem. Continuo castanha-comum-de-todas.
Melhor avisar: tenho certa reputação a zelar, sou viúva e aí vem o aviso, quase honesta.
Não se usa mais dizer viúva alegre , usa? E afinal, rindo tanto e brincando tanto quanto eu... melhor ficar com o quase honesta...
O fato meu menino é que lembrei a época da faculdade e a saudade bateu.
Liguei.
E te liguei.
E te re-liguei.
Afinal foi teu pedido... me liga, quero muito falar contigo. E eu liguei. E foi uma merda porque voltou tudo. Você, o bonitão da turma, as gurias, caindo em pencas e eu, a respondona (era uma boa ser respondona – me protegia dos tarados de plantão da época). Mas enfim... trinta anos depois eu ligo e você ainda continua na mesma? Ainda adora as meninas, agora não tão meninas, correndo atrás de você?
Ô meu filho. Tenho algo a te dizer.
Os oitenta e os setenta acabaram, as moças não querem mais homens que nada sabem e indecisos e mais, o tempo também passou sobre você que casou, separou, teve filho, e tu ainda continua nessa?
O duro não é isso. O duro sou eu, com mais de 52, acreditar que as pessoas mudam.
Que os solitários gabirus de faculdade... crescem.
Ai como sou tonta, como sou tonta.
Ainda bem que sou a primeira a rir de mim...
Maria Odila

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